domingo, 23 de abril de 2017

Sou o que compete a mim ser

Quando lhe perguntares quem eu sou,
Não hesite ficar em silêncio,

Não se arrisque dizer o que pensa, 
Nem repitas o que ouviu falar de mim. 

Eu sou muito mais do que transpareço,
Muito mais do que reconheço, 

Muito mais do que queres que eu seja.

Eu? Sou um poço fundo e coberto,
Cheio das mais insanas vontades,
Sou a busca da reciprocidade, 

Sou um questionamento sem fim. 

Ah, não se deixe enganar,
Meu sorriso esconde dores,
Minha alma esconde amores,
Meu corpo esconde marcas das dores dos amores.


Sou um pedaço de saudade,
Sou coragem, provida da incapacidade,
Sou crises de ansiedade,

Sou a busca pela liberdade de ser quem eu penso que sou. 

Eu sou o que a sociedade nega, 
O que a religiosidade renega,
O que meu interior se entrega,
E suplica pra que não me vejas como um qualquer,
Como um promíscuo, como um erro da genética.


Eu sou a consciência exata de que devo somar,
De que vim pra cuidar,
E também sou a busca de cuidado.


Eu sou o disfarce das marcas do rosto cobertas,
Das espinhas das costas tampadas,
Das cicatrizes de minha barriga,
Resultantes das experiências de escolhas erradas.


Eu sou parte do travesseiro molhado,
Sou o suspiro de cansaço,
Sou uma mente atordoada,
Sou cada vez mais escasso.

Mas eu também sou resiliência,
Não caio na condenação da carência,
Me entrego sem medir as consequências,
Pois eu sou todo dia uma sobrevivência.


Sobrevivência do que você diz de mim,
Do que pensas de mim,
Do que pregas pra mim.

Antes de falar a meu respeito, por favor,
Se cale por um minuto, você não conhece minha dor, 


Não precisa nem me entender,
Só permita compreender de que tenho mais a entregar,
Do que você acha que sou.

Aliás, eu sou alguém como você,
Sou o que compete a mim ser.

Matheus Araujo Dias


Nenhum comentário:

Postar um comentário